1. O EMPREENDEDOR
“Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer.” – Charles Dickens. Qualquer pessoa, em algum momento da sua vida, pode encontrar uma oportunidade ou necessidade de criação de negócio.
A capacidade de agarrar essa oportunidade e transformá-la num negócio lucrativo, depende de um conjunto de fatores, explicados no seguimento deste capítulo. É essencial que se perceba que todos na vida têm diferentes competências, motivações, motivos, realidades e características que lhes são inatas.
Cabe a cada um trabalhar, com o melhor de si, para criar valor. Acresce que um empreendedor não deve ser um talentoso super-homem que reúna em si próprio todas as competências necessárias para o desenvolvimento de um projeto empresarial, ou que crie, desenvolva e consolide um negócio lucrativo sozinho.
Hoje em dia as competências necessárias para o sucesso devem ser conjugadas, tendo origem nos diferentes empreendedores/promotores do projeto, na equipa ou em recursos humanos a contratar. O trabalho em equipa permite uma maior complementaridade de competências que o empreendedor, isoladamente, muito dificilmente consegue colmatar, proporcionando, por outro lado, o enriquecimento do projeto com outros perspetivas e partilha de risco.
1.1 Motivação para ser empreendedor
1.1.1 Motivação ou motivo
Existe uma diferença clara entre motivações e motivos que levam as pessoas a trabalhar para um dado fim. Muitas vezes, trabalhar por motivos não leva aos melhores resultados. Uma motivação é sempre associada ao lado mais positivo da vontade.
Esta desperta a curiosidade, a vontade, a criatividade e a capacidade de trabalho. Não quer dizer que não existam motivações negativas.
Os motivos podem ser bons ou maus. Geralmente, fazer alguma coisa por um motivo, tem sempre associada alguma responsabilidade e algum peso. Muitas vezes, são tidos como obrigações. Desta forma, associados a estímulos mais negativos que positivos, não contribuem para que a pessoa dê o melhor de si.
1.1.2 Motivações para empreender
Algumas das motivações encontradas num empreendedor, são as seguintes:
· A ambição de mudar, de aceitar desafios, e correr o risco de insucesso;
· A resiliência e autoconfiança, fundamentais, quando, repetidas vezes, os resultados não são os esperados;
· O sentido de oportunidade, que permite detectar a possibilidade de um novo avanço;
· A criatividade, capacidade de inovação e disponibilidade para aprender continuamente, fundamentais para encontrar soluções;
· O espírito de equipa e capacidade de liderança permitem motivar os colaboradores a persistirem na busca do sucesso;
· Saber que cada pequeno avanço é um passo no caminho da solução.
1.2 Competências do empreendedor
Perante uma ideia de negócio é importante enumerar as competências transversais ao ato de empreender e específicas do negócio que está a ser desenvolvido.
Podemos organizar as competências de um empreendedor em 4 grandes dimensões:
- Competências pessoais;
- Competências relacionais;
- Competências conhecimentos;
- Competências técnicas.
1.2.1 Competências pessoais
Resultam da formação pessoal, da personalidade, das atitudes, etc. Compreendem o empreendedor enquanto pessoa. Esta dimensão será fundamental para determinar o posicionamento do empreendedor perante o mercado.
· Honestidade
A imagem de credibilidade do empreendedor, é um ponto-chave para que os consumidores, os financiadores e os stakeholders em geral, o aceitem como parceiro de negócios.
· Capacidade de enfrentar riscos; Ambição; espírito de iniciativa; criatividade.
Quando um negócio está a nascer, sem certezas de que vai ser um sucesso e com necessidade de ultrapassar um sem número de desafios, é a atitude do empreendedor, de aceitar os riscos, de trocar soluções mais estáveis pela ambição, de construir a diferença e de utilizar a sua criatividade e espírito de iniciativa, que serão determinantes para o impulsionar, no desafio de transformar uma ideia num negócio de sucesso.
· Autoconfiança; Persistência; Perseverança; Resiliência.
A autoconfiança, a persistência de continuar a acreditar no sucesso e a trabalhar, mesmo quando as experiências iniciais não são bem-sucedidas e a resiliência para enfrentar os desafios que vão surgindo, são garantias da capacidade do empreendedor de buscar o sucesso da ideia.
· Autodisciplina; Pontualidade; autocontrole; organização.
Ao assumir o papel de empreendedor (passando muitas vezes de uma realidade de trabalho por conta de outrem, respeitando regras e protocolos de trabalho previamente estabelecidos), é necessária autodisciplina e organização para aplicar essas características de sucesso a si mesmo e à equipa, uma vez que ninguém o fará por si.
· Capacidade de análise/síntese O empreendedor vai, permanentemente, ser solicitado a rever a situação do seu negócio e a redesenhar orientações e planos.
No que respeita os projetos de empreendedorismo e inovação, a passagem da ideia ao negócio é muito dinâmica e a capacidade de análise e síntese vai ter um papel chave no progresso do negócio.
· Espírito de observação Um empreendedor é, naturalmente, alguém capaz de, observando o mundo em seu redor, identificar uma ideia e/ou criar uma solução, quando muitos outros, em condições semelhantes, não o conseguiram.
· Poder de comunicação; Fluência e continência verbais; capacidade de escutar; argumentação. Comunicar o negócio ao mercado e aos diferentes stakeholders é a chave para que uma boa ideia se transforme num negócio de sucesso.
· Apresentação pessoal A imagem do empreendedor é essencial para garantir a aceitação do mercado.
A apresentação pessoal tem uma quota-parte importante na criação desta imagem. Quando se refere uma boa apresentação pessoal, não se pressupõe uma atitude formal, mas uma atitude adequada a cada situação, transmitindo sempre uma imagem cuidada.
1.2.2 Competências relacionais
Nesta dimensão o empreendedor deve ser capaz de conciliar a capacidade de empatia com a projeção.
· Empatia Capacidade de compreender os outros.
· Projeção Capacidade de se focar nos objetivos.
· Capacidade de Interação (mercado, empresa, colegas…) Mantendo o foco nos objetivos e resultados, ser capaz de interagir produtivamente com o seu grupo de trabalho e com os interlocutores do mercado. Ser capaz de obter resultados, trabalhando com um grupo.
1.2.3 Competências de conhecimento
Esta dimensão agrega o conjunto de conhecimentos, a que habitualmente se chama knowhow. Muitos destes conhecimentos são resultantes da formação académica do empreendedor ou de um esforço autónomo de pesquisa e estudo.
· Conhecimentos de Gestão
Empresarial Quando transforma uma ideia num negócio, o empreendedor está perante um quadro empresarial que precisa de gerir com atitude profissional. Como principal responsável pelo sucesso do negócio, o empreendedor necessita de um boa formação nas diversas disciplinas de Gestão Empresarial.
· Conhecimentos de Gestão de Marketing Os conhecimentos de Gestão de Marketing merecem uma referência especial.
Pelo papel que desempenham no diagnóstico de mercado, na definição de uma visão estratégica para a empresa e no estabelecer de um plano de marketing que operacionalize a atividade da empresa de forma sustentada, estes são de uma importância extrema.
· Conhecimento de Gestão da Comunicação A Comunicação, sendo um elemento chave da gestão de marketing, tem um papel importante na ligação da empresa ao mercado. A correcta gestão das interações com o mercado é fundamental para garantir o sucesso da empresa.
1.2.4 Competências técnicas
· Aplicação dos conhecimentos de marketing Para além de ter conhecimentos de marketing, o empreendedor deve ser capaz de aplicar esses conhecimentos no desenvolvimento de um plano operacional coerente.
· Gestão por objetivos Estabelecer objetivos ambiciosos e realistas é uma base fundamental para a motivação da equipa, para o planeamento coerente das atividades e para a avaliação do progresso do negócio.
· Planeamento, Organização e método Uma empresa que está na fase de arranque, vai enfrentar dificuldades e seguramente escassez de recursos. De modo a minimizar estes problemas e a maximizar as hipóteses de sucesso, é fundamental um bom planeamento das fases de implementação e das diversas atividades, bem como uma boa organização das tarefas.
· Gestão do tempo
As organizações têm hoje a noção de que o tempo é escasso. Mais importante que isso, tempo é dinheiro. Numa empresa com recursos limitados, é imperativo não desperdiçar tempo, otimizando as atividades e garantindo o cumprimento dos prazos planeados.
· Gestão da informação
“Gerir é tomar decisões com base em informação”. Na gestão empresarial, a informação e a sua gestão são fundamentais. A informação é o alicerce das boas decisões de gestão.
· Competências técnicas para realizar o produto ou serviço, que resulta da implementação da ideia é fundamental inventariar as competências técnicas necessárias à realização do projeto e verificar se o empreendedor ou a sua equipa detêm essas competências.
Não as detendo, é necessário que sejam capazes de mobilizar para o projeto as competências técnicas em falta.
· Fluência em línguas estrangeiras
Dependendo do projeto e dos mercados alvo, o domínio de uma ou mais línguas estrangeiras é fundamental para a abordagem dos mercados internacionais.
· Utilização de meios informáticos
Se o projeto não exigir competências informáticas específicas, a capacidade de usar a informática ao nível de utilizador é um requisito mínimo (ex.: ferramentas de office e correio eletrónico).
1.3 Análise de Competências
Com o objetivo de perceber quais as competências que lhe são inerentes e quais as que, estando em falta, pode trabalhar ou adquirir, preencha a seguinte lista:
Competências pessoais
- Honestidade;
- Sentido de conquista: Ambição, espírito de iniciativa, criatividade.
- Autoconfiança: Persistência, Perseverança, Resiliência;
- Capacidade de enfrentar o risco;
- Autodisciplina: Pontualidade, autocontrole, organização.
- Capacidade análise / síntese;
- Espírito de observação;
- Poder de comunicação: Fluência e continência verbais, capacidade de escutar, argumentação;
- Apresentação pessoal Competências relacionaia;
- Empatia;
- Projeção;
- Capacidade de Interação (mercado, empresa, colegas…);
- Espírito de equipa;
Competências de conhecimento
- Conhecimento de Gestão Empresarial;
- Conhecimentos de Gestão de Marketing;
- Conhecimentos de Gestão da Comunicação Competências técnicas;
- Aplicação dos conhecimentos de marketing;
- Gestão por objetivos;
- Planeamento, organização e método;
- Gestão do tempo;
- Gestão da informação;
- Competências técnicas para realizar o produto ou serviço;
Fluência em línguas estrangeiras
- Inglês
- Francês
- Espanhol
Outra
Utilização de meios informáticos
Office
Outros
Uma vez identificadas as competências em falta e existindo a possibilidade de trabalhar em equipa, procure complementar as suas competências com as competências dos seus colaboradores. Estabeleça um plano de formação para si e para os seus colaboradores, com vista à aquisição das competências ainda por adquirir. Pode elaborar, ou preencher uma tabela como a que se apresenta.
2. A IDEIA
A ideia é o ponto de partida para o desenvolvimento de um negócio. Numa perspetiva muito genérica, uma ideia surge como resposta a uma necessidade identificada. O mercado permite detetar uma necessidade mas não define o produto de que necessita.
A visão empreendedora vai revelar-se na capacidade de detetar uma necessidade e desenvolver uma solução ou produto para a satisfazer. Exemplificando: Quando Steve Jobs criou o iPad o mercado não “lhe disse” que precisava de um tablet.
O mercado queria aceder à informática, nomeadamente à internet, em situações de mobilidade, na rua, no café, no aeroporto, sentados a uma mesa ou em pé, na paragem de autocarro ou no terminal do aeroporto. Steve Jobs interpretou a necessidade e criou uma plataforma que tinha autonomia de bateria de várias horas, arrancava quase de imediato, cujo interface de trabalho eram as próprias mãos e que permitia segurar o equipamento e simultaneamente trabalhar com ele com um razoável nível de conforto.
Alguns dos críticos, mais pessimistas, garantiam que não teria qualquer sucesso porque não tinha teclado. Claro que a ausência de teclado era uma das vantagens competitivas do iPad. Não só o sucesso foi enorme, como todo o mercado se lançou a desenvolver produtos semelhantes.
2.1 Validação da ideia
Existindo uma ideia, é fundamental a sua validação. Validar a ideia permite ao empreendedor perceber se vale a pena iniciar o seu projeto ou se, por outro lado, não existem condições para o sucesso da mesma.
2.1.1 Avaliação da viabilidade de uma ideia
A avaliação de viabilidade de uma ideia deve ser feita em três perspetivas:
· Viabilidade técnica
· Viabilidade económica
2.1.2 Viabilidade Técnica
Viabilidade de executar a ideia ou solução pensada, do ponto de vista de know-how e recursos técnicos disponíveis. Implica:
· Confirmar a detenção ou disponibilidade do know-how para construir a solução;
· Descrever detalhadamente o processo de construção da solução;
· Confirmar a existência e acessibilidade dos equipamentos capazes de construir a solução;
· Confirmar a existência e acessibilidade das instalações necessárias à implementação do projeto;
· Confirmar a existência de empresas que podem participar na produção industrial;
· Confirmar que a solução tem capacidade de competir com as soluções concorrentes;
· Verificar pontos fortes e fracos da solução em comparação com a concorrência.
2.1.3 Viabilidade económica
A ideia ou solução pensada constitui-se como oportunidade de negócio? As oportunidades de negócio resultam de necessidades não satisfeitas ou que podem ser satisfeitas de uma forma diferente e melhorada, relativamente às soluções existentes.
O objetivo é garantir que existe mercado para a solução, que o mercado está disponível para aderir à solução e que tem dimensão para viabilizar o projeto economicamente.
Apesar de, numa fase inicial, não ser geralmente viável o empreendedor fazer ou encomendar um estudo de mercado, pode sempre fazer uma amostragem limitada de utilização e receber feedback sobre a aceitação da ideia e alterações a introduzir. Os amigos, os professores são alguns exemplos de utilizadores que podem dar feedback sobre a ideia.
Leave a Reply